Conflito entre Israel e Irã pode travar economia brasileira e retardar corte da Selic

Susan Green

O conflito entre Israel e Irã reacende alertas sobre os efeitos de choques externos na economia brasileira em um momento delicado do cenário fiscal e monetário do país. Em uma economia globalizada, os reflexos de tensões no Oriente Médio não se limitam aos países envolvidos diretamente. A guerra entre Israel e Irã pode provocar uma nova escalada nos preços do petróleo, além de pressionar o dólar e dificultar ainda mais a queda da taxa Selic, com impactos profundos para a economia brasileira e seus principais indicadores macroeconômicos. O país, mesmo geograficamente distante da região, não está imune às turbulências de um mercado internacional interconectado.

A guerra entre Israel e Irã pode afetar o abastecimento global de petróleo, elevando o preço da commodity e encarecendo diversos insumos essenciais no Brasil. O petróleo é uma das matérias-primas mais relevantes da economia mundial e está presente, direta ou indiretamente, em quase toda a cadeia produtiva, desde os transportes até a indústria de alimentos. Se o Irã fechar ou restringir a passagem pelo estratégico Estreito de Ormuz, por onde transita cerca de 20% do petróleo global, o impacto seria um verdadeiro choque do petróleo. Isso traria inflação adicional em um país como o Brasil, que já enfrenta um IPCA acima do teto da meta estabelecida pelo Banco Central.

Com o aumento da tensão no Oriente Médio, a guerra entre Israel e Irã também pode provocar uma valorização do dólar frente ao real. Em tempos de incerteza, investidores globais buscam ativos mais seguros, como a moeda norte-americana, o que pressiona a taxa de câmbio e afeta diretamente os preços internos no Brasil. A valorização do dólar encarece produtos importados, combustíveis e matérias-primas cotadas em moeda estrangeira, tornando a inflação ainda mais difícil de controlar. Esse movimento desorganiza as projeções para o corte da Selic, que é atualmente uma das mais altas do mundo, em 15% ao ano.

A economia brasileira pode se ver presa em um cenário de estagflação, em que a atividade econômica desacelera enquanto os preços continuam subindo. A guerra entre Israel e Irã, ao desorganizar os preços internacionais do petróleo e impactar o câmbio, torna o ambiente macroeconômico ainda mais desafiador. O Banco Central pode ser forçado a postergar a redução da Selic, mesmo com o fraco desempenho do PIB. Isso trava o investimento, encarece o crédito e dificulta a retomada do crescimento. Empresas que dependem de capital intensivo ou importação de tecnologia, como a indústria, serão diretamente impactadas.

A guerra entre Israel e Irã também pode agravar o cenário fiscal brasileiro, ao reduzir as margens de manobra do governo para implementar políticas públicas e estimular a economia. Juros altos aumentam o custo da dívida pública e diminuem o espaço fiscal para novos investimentos. Além disso, a queda na confiança dos investidores, agravada pelo risco geopolítico global, pode gerar fuga de capitais e pressões sobre o risco-país. O Brasil, que já enfrenta déficit primário elevado e dívida em trajetória crescente, corre o risco de perder ainda mais espaço nos mercados internacionais.

Os setores produtivos do Brasil, especialmente os mais sensíveis à oscilação do dólar e à variação dos preços de combustíveis, sentirão com mais intensidade os efeitos da guerra entre Israel e Irã. O agronegócio, por exemplo, altamente dependente de fertilizantes importados e transporte rodoviário, pode sofrer impactos severos nos custos. A indústria de transformação, que depende de máquinas, peças e equipamentos comprados do exterior, também deve rever seus planos de expansão. O aumento generalizado dos custos de produção pode afetar a competitividade dos produtos brasileiros tanto no mercado interno quanto no comércio exterior.

Em um cenário onde a inflação já ultrapassa os 5% acumulados em 12 meses, acima do teto da meta estabelecida em 4,5%, a guerra entre Israel e Irã pode agravar ainda mais a percepção de instabilidade econômica. A combinação de inflação persistente, Selic elevada e câmbio depreciado enfraquece o consumo das famílias e afeta diretamente o nível de atividade. A incerteza gerada por esse conflito no Oriente Médio exige respostas rápidas e coordenadas por parte das autoridades brasileiras para mitigar os efeitos negativos e proteger a economia nacional dos choques externos.

Diante de tantos riscos, a guerra entre Israel e Irã se apresenta como uma ameaça real para a estabilidade econômica do Brasil nos próximos meses. Mais do que uma crise distante, o conflito pode funcionar como catalisador de problemas internos já existentes, como inflação elevada, juro alto e fragilidade fiscal. A globalização tornou as economias mais conectadas e, ao mesmo tempo, mais vulneráveis. O Brasil precisará de prudência, agilidade e responsabilidade fiscal para atravessar mais esse momento turbulento sem comprometer sua recuperação econômica.

Autor: Susan Green

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