O G20 Social e a Trilha de Finanças se encontraram de forma inédita no Rio de Janeiro para discutir propostas concretas que visam transformar a arquitetura financeira global. A reunião, que reuniu representantes da sociedade civil e os vice-ministros de Finanças dos países do G20, colocou em evidência a urgência de criar um modelo de financiamento sustentável que contemple as demandas do Sul Global. Durante o encontro, os participantes apresentaram recomendações que incluem desde reformas nos Bancos Multilaterais de Desenvolvimento até novas regras para taxação internacional, focadas no combate à desigualdade econômica global.
A proposta de um financiamento sustentável apareceu com força entre as recomendações levadas pelos 13 grupos de engajamento ao G20. Os representantes civis ressaltaram a necessidade de garantir acesso a recursos para projetos de infraestrutura verde, principalmente nos países em desenvolvimento. O financiamento sustentável, segundo as entidades presentes, é a chave para viabilizar a transição energética, fomentar a inclusão financeira e criar soluções para o combate às mudanças climáticas. Essa abordagem exige uma reforma nos mecanismos de crédito e investimento, que atualmente beneficiam de forma desproporcional as economias mais ricas.
Além disso, os participantes reforçaram a importância de reformar os Bancos Multilaterais de Desenvolvimento para que passem a operar com critérios mais justos e transparentes. O financiamento sustentável, nesse contexto, deve considerar a realidade social e econômica dos países do Sul Global, oferecendo condições acessíveis e menos burocráticas para a obtenção de recursos. A reformulação dessas instituições é vista como um passo decisivo para equilibrar o jogo econômico internacional e promover crescimento equitativo entre os países-membros do G20.
A sessão também abordou a criação de padrões internacionais de taxação, apontando para a urgência de tributar grandes fortunas e combater a evasão fiscal de corporações transnacionais. As organizações civis destacaram que o financiamento sustentável depende diretamente de uma nova lógica tributária que responsabilize os super-ricos e realoque recursos para políticas públicas ambientais e sociais. Essa medida é vista como essencial para aumentar a arrecadação e direcionar fundos para ações climáticas, desenvolvimento humano e infraestrutura inclusiva.
Durante o evento, representantes de países como Alemanha, Estados Unidos, Egito e União Africana elogiaram a iniciativa do Brasil de abrir espaço no G20 para a escuta ativa da sociedade civil. O financiamento sustentável foi amplamente reconhecido como um tema estratégico para o futuro global, capaz de unir governos, empresas e organizações sociais em torno de metas comuns. A receptividade das propostas também demonstra a crescente sensibilidade dos governos para a pressão popular e para os riscos de um colapso ambiental e financeiro se nada for feito.
A coordenadora do Women 20, grupo de engajamento focado em gênero, destacou que a autonomia financeira das mulheres também deve ser tratada como prioridade no financiamento sustentável. A valorização do trabalho de cuidado e o apoio ao empreendedorismo feminino foram colocados como pontos centrais para construir economias mais justas. Segundo ela, integrar a equidade de gênero ao financiamento sustentável é fundamental para garantir a eficácia de qualquer política de desenvolvimento a longo prazo.
No âmbito empresarial, o Business 20 reforçou a necessidade de atrair capital privado para projetos sustentáveis. A proposta é que o financiamento sustentável se torne atrativo também para investidores, com estímulo a novos modelos de negócios voltados à transição energética. A inclusão de pequenas e médias empresas nesse processo foi apontada como essencial para garantir capilaridade às ações e democratizar os impactos positivos da economia verde. Com esse olhar, o G20 começa a reconhecer que o futuro do planeta depende de decisões tomadas com responsabilidade coletiva e participação ampla.
Com a liderança brasileira no G20 em 2024, o financiamento sustentável passou a ocupar o centro das discussões econômicas do bloco. A integração entre sociedade civil e Trilha de Finanças representa uma inovação histórica no fórum, sinalizando que as maiores economias do mundo estão sendo chamadas a ouvir e agir conforme as demandas reais das populações. A consolidação do financiamento sustentável como eixo central do debate é uma oportunidade de reposicionar o G20 como protagonista na construção de um mundo mais justo, equilibrado e ambientalmente responsável.
Autor: Susan Green